A vida pode ser uma festa
- Gilberto G. Pereira
É que tudo parecia uma festa, e era. Mas era também o grande momento de aprender de modo divertido sobre sociabilidade, cultura popular, arte e sobre como cada um tem potencial expressivo e uma grande capacidade de fazer a diferença.
A realeza e seus seguidores eram crianças de seis a 11 anos, alunos da Escola Municipal Paulo Teixeira de Mendonça, que representavam personagens das diversas manifestações culturais do carnaval, como o maracatu, o samba, a marchinha e a commedia dell'arte com seus pierrots, colombinas e arlequins.
A professora da Oficina de Dança da escola, Flávia Dayana Almeida Noronha, foi quem teve a ideia de preparar o evento para as crianças. “Li o livro Linguagem da dança - arte e ensino, da pesquisadora Isabel Marques, que fala do papel da arte no contexto escolar e do sujeito na produção artística, e vi que poderíamos trabalhar isso com nossos alunos.”
Flávia não só teve a ideia como ficou à frente de toda a produção da festa e o arranjo de materiais. Os outros professores gostaram da iniciativa e também entraram no jogo, cujo resultado foi a bela apresentação dos alunos pelas ruas do bairro. “Com isso a população pôde ver que as crianças de nossa escola estão muito envolvidas em produções de arte”, comenta a professora.
Os alunos, por outro lado, puderam compreender a importância da arte em suas vidas. Kauã (10 anos), por exemplo, que fez o rei do maracatu, ao lado da rainha Thayla, 10, experimentou uma das maiores satisfações pessoais, no alto de sua primeira década. “Nunca me senti tão bem. Gostei tanto que queria fazer isso outras vezes.”
Esta foi a primeira vez que a escola desenvolveu uma atividade de expressão artística e de festa ao mesmo tempo, em que seus alunos se deliciaram numa folia de duas horas. E nada foi feito de supetão. Tudo foi pensado artística e pedagogicamente.
Segundo Flávia, o professor da Oficina de Música da escola, José Antônio, teve uma participação muito importante no processo, porque mostrou aos alunos como funciona e o que significa cada ritmo empregado na festa e os ensinou a tocar pandeiro. Os demais professores, cada um a seu modo, completaram o quadro de inciativas.
Além disso, a Oficina de Dança foi essencial. “Ali, desenvolvemos a contextualização da gestualidade de cada modalidade e exploramos o potencial criativo de cada agrupamento no processo de elaboração coreográfica”,
diz Flávia.
Iniciativa enriquece a escola
O carnaval é apenas um dos diversos exemplos que podem ser aplicados em sala de aula para motivar alunos, exercitar sua criatividade e trabalhar a autoestima de modo diferente. Mas é um grande exemplo, principalmente porque na ocasião da festa, não se faz, nem se fala, outra coisa.
Segundo Flávia Dayana, professora da Oficina de Dança da escola Paulo Teixeira de Mendonça, o carnaval na educação dos alunos é uma chave que acessa a imensa gama de manifestações culturais. E explica por quê. “O projeto elencado para trabalhar no primeiro semestre está ligado ao (re) conhecimento da cultura brasileira, no tocante à pluralidade de produções e saberes.”
Desse modo, continua Flávia, o carnaval é uma boa escolha porque é manifestação importante da cultura brasileira. “Ele retrata aspectos da nossa sociedade no âmbito da organização sociopolítica e cultural. Ao realizar o evento, portanto, nossa intenção foi promover a apropriação crítica deste conhecimento historicamente produzido pelo ser humano, em suas relações com o meio e com o outro”, avalia.
A visibilidade positiva da escola na comunidade é outro ganho. A folia organizada pela professora Flávia e seus colegas demonstrou ao público abrangente do bairro que a escola é mais que um espaço de conhecimento novo. Também produz arte, e, além disso, sabe se articular com os saberes populares.
Para realizar a festa, os professores distribuíram os ritmos junto às seis turmas do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. A Turma A ficou com um pot-pourri (mistura de músicas) de marchinhas cantadas por Betty Carvalho.
Os alunos das Turmas B e C ganharam o Samba Enredo de 2001 da escola de samba carioca Caprichosos de Pilares, “Goiás – um sonho de amor no coração do Brasil”. Os da D ficaram com o axé “Pai e filho”, do grupo Ilê Ayê. A Turma E dançou e cantou “Virada de maracatu”, da Nação Erê, e a F, o frevo “Galo da madrugada”, de Alceu Valença.
Os figurinos foram cedidos pelo Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia. Segundo Flávia, o projeto foi um sucesso, e deveria ter continuidade.
Conheça a instituição
Escola Municipal Paulo Teixeira de Mendonça
Rua Três Maria, Setor Negrão de Lima
Com 198 alunos, foi fundada em março de 1976
Escola de tempo Integral, atende os Ciclos I (turmas A, B e C)
e II (D, E e F) do Ensino Fundamental.
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